Foi primeiramente com Charles Chaplin que o povo se fez cinema: “Chaplin ilumina o século XX, porque nele o Povo se faz Imagem”, gritou Glauber Rocha: bombeiros, caixeiro, doceiro, aprendiz, emigrante, comunista, noivo, operário, patinador, maquinista, soldado, músico, peregrino, artista de circo, marinheiro...
Como é possível “ser tão sozinho em meio a tantos ombros,/ andar aos mil num corpo só, fanzino,/ e ter braços enormes sobre as casas,/ ter um pé em Guerrero e outro no Texas,/ falar assim chinês, a maranhense,/ a russo, a negro: ser um só, de todos,/ sem palavra, sem filtro, sem opala”? (DRUMMOND, Carlos. Canto ao Homem do Povo Charles Chaplin. In: A Rosa do Povo).
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Transcrevo Glauber Rocha: “Em Chaplin estão condicionados valores eternos; por isso negou o originalismo, a masturbação artística e pseudo-inovadores de uma Arte que só nele se realizou como expressão de vida e que só em raros gênios encontrou continuação. Querer situa-lo como Cineasta não o justifica; Chaplin é um complexo artístico que transcende ao Cinema” (In: ROCHA, Glauber. O Século do Cinema).
Walter da Silveira viu Chaplin transcender o indivíduo rumo a uma profundeza social exatamente na passagem de ‘Luzes da Cidade’ para ‘Tempos Modernos’.
Até Luzes da Cidade, filme anterior a Tempos Modernos “a arte chapliniana consistia no homem chapliniano, em Carlitos, o vagabundo da cartola, da bengala, das botinas rotas e do bigodinho que Hitler plagiou. Era uma arte tirada da vida, era mesmo a vida filmada, tal a ausência de ficção nos seus argumentos. Mas, era, também, uma arte olhada sob o prisma individualista, uma arte que vivia em função de uma personalidade – paria medroso e perseguido, que via na fuga a única solução possível para as suas atribulações. Desaparecido o homem, desapareceria a via, desapareceria a arte: o mundo de Charlot. [...] É o que não acontece
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“Ó, Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança” (Drummond).
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“E no fim, aquele quadro genialmente simples, genialmente expressivo, aquele desfecho alegórico como só dois homens sabem fazer no cinema – Chaplin e King Vidor: a estrada longa e deserta, anunciadora de uma nova vida cheia de liberdade, envolta no fulgor da alvorada” (Walter da Silveira).
Um comentário:
ótimo :)
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