quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cão sem Sonhos
















O filme novo de Beto Brant tem uma estética interessante para pensar algumas questões bem atuais. Em tempos de discussão acirrada sobre formatos e suportes audiovisuais, Beto Brant responde fazendo cinema.

A fotografia não podia ser mais realista. O filme começa na cozinha, sem cerimônias. Uma câmera observa o casal. Quase como se fosse uma web cam, o filme imita o vídeo e o roteiro imita um diário de internet. Tal qual um blog filmado, o filme vai passando, sem grandes acontecimentos, mostrando um homem comum, um pouco entediado, um pouco angustiado, desempregado, ajudado pelos pais, sem grandes sonhos ou projetos. Inteligente e sensível ele fala pouco e não tem pretensões.

Ele conhece uma moça que tem sonhos de viagem e vislumbra uma grande carreira de modelo. Eles fazem amor e começam a namorar. Mas tudo é vivido sem grandes encantamentos.

O filme de Brant se cruza em vários pontos com En La Cama de Matias Bize, um filme simples, sobre um casal que se conhece numa festa e bêbados acabam indo a um motel, onde fazem amor e conversam sobre a vida, sabendo da fugacidade desse encontro. Novamente há uma impressão de que apenas uma web cam se move pelo quarto e que assistimos em tempo real o encontro do casal.





Se esses dois filmes problematizam a linguagem cinematográfica é justamente porque levam ao cinema a estética de internet. É como um realismo moderno. Ninguém mais precisa mostrar os equipamentos para afirmar que todo filme é uma ficção, isto já esta dado. Então como chegar hoje a uma impressão de realidade no cinema? Parece ter sido essa a vontade desses dois cineastas.

O que acontece com esses filmes é que abrem um campo de experimentação fundamental. Filmes de baixo orçamento, com poucos equipamentos de luz e maquinaria, poucas locações sendo a maior parte delas internas. Os personagens têm perfis bem parecidos: pessoas inteligentes, sensíveis, um pouco desiludidas com a vida e conduzidas pelos acasos cotidianos.

No filme de Brant a problematização da linguagem fica ainda mais evidente na cena em que o rapaz, vai a uma festa de família em que alguém os filma. As imagens capturadas pela câmera doméstica contrastam muito pouco com toda a fotografia do filme, não só pela luz, mas pelo movimento da câmera, que durante o filme inteiro parece apenas registrar alguns acontecimentos do cotidiano do rapaz.

O que acontece após assistir a esses filmes é pensar que levar a vida comum ao cinema pode ser bem mais interessante se a realidade também for reinventada. Esses filmes apesar de inovarem tecnicamente após algum tempo nos deixam tão entediados quanto seus personagens.





Aline Frey.

Um comentário:

bruxinha disse...
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