quarta-feira, 29 de agosto de 2007

ARTIGOS DE ANTONIONI

A contracampo deste mês (n°88) traz vários artigos escritos por Antonioni que nunca foram publicados no Brasil e outros sobre Alain Resnais. Vale apena conferir.
http://www.contracampo.com.br/

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O CHEIRO DO RALO, de Heitor Dhalia

por Aline Frey e Marcelo Matos de Oliveira




Muito cinema para pouca grana. “O Cheiro do Ralo” de Heitor Dhalia recria um mundo onde habita a subjetividade dominante dos nossos tempos: o homem branco, capitalista, heterossexual e habitante da cidade. Estas quatro características definiriam bem o anti-herói do filme: Lourenço, o exímio representante da classe média dos países terceiro-mundistas.

Ninguém tem dúvidas: há muitos Lourenços. Se a corrupção da elite (sonegação de impostos, desvio de verbas públicas, latifundiários que exploram o trabalho escravo...) é de fácil denúncia, o mesmo não é para as pequenas corrupções cotidianas da classe média que são ainda muito mais sutis. Com temores de empobrecimento e delírios irrealizáveis de luxúria, a classe média negocia o quanto pode sua vida e seus valores. O filme deixa um saldo interessante: um asco pelo dinheiro e por todos que fazem dele o fim de seus princípios.

Lourenço põe a sua mesa de negócios entre seus clientes e sua mesquinha coleção de quinquilharias. Cada pessoa - que se senta à sua frente pra vender-lhe um objeto - tenta transformar memória, afeto e beleza em dinheiro. E o anti-herói, com muita presteza, está ali para colocar o objeto na balança e dizer arbitrariamente o quanto vale. As prateleiras de Lourenço, repletas de objeto pessoais, não são feitas de memórias e sim de mercadorias. Se o dinheiro pode tudo, é porque há um juros, um ônus impagável – o risco do irremediável.

Com frases prontas como “a vida é dura”, Lourenço aproveita-se do desespero de seus clientes para comprar seus objetos e, como troco, dá o cheiro do ralo. “Está sentindo este cheiro?” – pergunta Lourenço. “É o ralo” – ele mesmo responde. Como se emanasse de si mesmo, Lourenço vive imerso nesse cheiro.

O filme de Heitor Dhalia é marrom, a mesma cor da merda que decora as paredes do escritório de Lourenço. Se o cheiro é um sentido impossível de ser alcançado no cinema, suas cores parecem exalar para fora da tela o que está dentro do intestino e da alma do personagem.

Imerso entre o cheiro do ralo e os objetos “usurpados” de seus clientes, Lourenço vive sozinho. Os planos fixos de espaços abertos e vazios, usados como transição entre os espaços fechados da lanchonete, da casa e do trabalho, acentuam ainda mais esta solidão do personagem. Em seu apartamento, após terminar com sua namorada, Lourenço sente prazer ao assistir na televisão uma apresentadora de um programa de ginástica. Quando ela aproxima-se da câmera e diz a célebre frase de Nietzsche “eu só acredito num Deus que dança”, podemos perguntar-nos: “e onde dança o Deus de Lourenço?”

Lourenço, o homem comum habitante de uma cidade qualquer. Por isso não interessa se a história acontece no Rio de Janeiro ou em São Paulo, nos anos 70 ou 80. Tanto faz. Os valores do homem médio não variam tanto assim. Tal como o sotaque dos jornalistas das grandes redes de televisão, o sotaque de Lourenço é “nacional”.

Assim, quando Lourenço - interpretado por Selton Melo - é lembrado como sendo parecido com “o artista daquela propaganda”, o homem que compra objetos passa também a ser aquele que já vendeu a si mesmo: seu rosto pertence à televisão, às novelas, às propagandas e aos filmes globais. O artista desse filme tem uma imagem que antecede ao próprio personagem. Destarte, lembrando ao espectador estas “imagens” que estão fora da tela, o diretor consegue reforçar ainda mais o mercantilismo de Lourenço. Uma boa saída já que sabemos que o diretor resistiu a aceitar Selton Melo como ator do filme: ele queria um corpo mais decadente. No entanto, por insistência do ator e provavelmente da produção, acabou aceitando.

Se durante todo o filme, Lourenço consegue dominar os objetos e as pessoas, isso não acontece com o olho de brinquedo. Este é o único objeto que se furta aos seus lances mercantilistas. Ele acaba comprando-o a um preço exorbitante. O olho - a metáfora da captação da imagem - vira, em algumas situações, a própria câmera do filme. Posicionando-o a sua frente, Lourenço apresenta-lhe as pessoas. Seu olho persecutório é o brinquedo que passa a mediar a relação dele com o mundo.

Assim, ele adentra na lanchonete e com o seu olho, passa a roubar a imagem da bunda da moça que lá trabalha. Sua relação com ela apenas reprisa os velhos fetiches masculinos. A moça – objeto de desejo - não precisa de rosto, e nem se quer de nome. Ou melhor, o único rosto das mulheres – para Lourenço – é a bunda. Em uma das cenas, a clássica composição dos diálogos através do plano-contraplano ganha um uso interessante, quando a cara de Lourenço alterna com o contra-plano de uma bunda, tendo ao fundo o seu rosto desfocado. É assim que as mulheres flutuam na superficialidade dele, desfilam anônimas pelos olhos de quem apenas vislumbra possuir um corpo, ou ainda apenas uma parte dele.

O “Cheiro do Ralo” é um filme necessário sobre um homem comum, inteligente, solitário e mesquinho de nosso tempo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Cão sem Sonhos
















O filme novo de Beto Brant tem uma estética interessante para pensar algumas questões bem atuais. Em tempos de discussão acirrada sobre formatos e suportes audiovisuais, Beto Brant responde fazendo cinema.

A fotografia não podia ser mais realista. O filme começa na cozinha, sem cerimônias. Uma câmera observa o casal. Quase como se fosse uma web cam, o filme imita o vídeo e o roteiro imita um diário de internet. Tal qual um blog filmado, o filme vai passando, sem grandes acontecimentos, mostrando um homem comum, um pouco entediado, um pouco angustiado, desempregado, ajudado pelos pais, sem grandes sonhos ou projetos. Inteligente e sensível ele fala pouco e não tem pretensões.

Ele conhece uma moça que tem sonhos de viagem e vislumbra uma grande carreira de modelo. Eles fazem amor e começam a namorar. Mas tudo é vivido sem grandes encantamentos.

O filme de Brant se cruza em vários pontos com En La Cama de Matias Bize, um filme simples, sobre um casal que se conhece numa festa e bêbados acabam indo a um motel, onde fazem amor e conversam sobre a vida, sabendo da fugacidade desse encontro. Novamente há uma impressão de que apenas uma web cam se move pelo quarto e que assistimos em tempo real o encontro do casal.





Se esses dois filmes problematizam a linguagem cinematográfica é justamente porque levam ao cinema a estética de internet. É como um realismo moderno. Ninguém mais precisa mostrar os equipamentos para afirmar que todo filme é uma ficção, isto já esta dado. Então como chegar hoje a uma impressão de realidade no cinema? Parece ter sido essa a vontade desses dois cineastas.

O que acontece com esses filmes é que abrem um campo de experimentação fundamental. Filmes de baixo orçamento, com poucos equipamentos de luz e maquinaria, poucas locações sendo a maior parte delas internas. Os personagens têm perfis bem parecidos: pessoas inteligentes, sensíveis, um pouco desiludidas com a vida e conduzidas pelos acasos cotidianos.

No filme de Brant a problematização da linguagem fica ainda mais evidente na cena em que o rapaz, vai a uma festa de família em que alguém os filma. As imagens capturadas pela câmera doméstica contrastam muito pouco com toda a fotografia do filme, não só pela luz, mas pelo movimento da câmera, que durante o filme inteiro parece apenas registrar alguns acontecimentos do cotidiano do rapaz.

O que acontece após assistir a esses filmes é pensar que levar a vida comum ao cinema pode ser bem mais interessante se a realidade também for reinventada. Esses filmes apesar de inovarem tecnicamente após algum tempo nos deixam tão entediados quanto seus personagens.





Aline Frey.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Filmes Rurais




Três documentários sobre trabalhadores rurais e a indústria da cana-de-açúcar - um deles produzido com o apoio da CESE.

Bagaço e Vidas Cheias - produzidos pela Comissão Pastoral da Terra e Rede Social de Justiça e Direitos Humanos

Armas não atiram rosas - produzido pela Comissão Pastoral da Terra, Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e Movimento dos Trablhadores Rurais Sem Terra, com o apoio da CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço).

Armas não atiram rosas retrata a história do brutal assassinato de dois trabalhadores, Pedro Augusto da Silva e Inácio José da Silva. Antes de serem mortos, Pedro e Inácio foram torturados. O caso ficou conhecido como o Massacre de Camarazal e ocorreu há 10 anos, no acampamento do Engenho Camarazal, na Zona da Mata, Norte de Pernambuco, região dominada pela monocultura da cana. Vidas Cheias revela a sabedoria dos camponeses na convivência com o semi-árido e imagens da beleza pouco conhecida do Sertão nordestino. Bagaço mostra a realidade dos trabalhadores na indústria da cana em Pernambuco. O vídeo retrata o dia-a-dia do trabalho no corte da cana, as violações de direitos, a destruição ambiental e a inviabilidade de um modelo de produção baseado no latifúndio e na super exploração do trabalho.

Armas não atiram rosas - Na madrugada de 9 de junho de 1997, pistoleiros atacaram o acampamento do Engenho Camarazal, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, uma região dominada pela monocultura da cana. Eles chegaram atirando contra trabalhadores rurais sem terra acampados na área. Cinco trabalhadores ficaram feridos, inclusive duas crianças. Pedro Augusto da Silva e Inácio José da Silva foram assassinados depois de terem sido brutalmente torturados. O caso ficou conhecido como o Massacre de Camarazal. No mesmo ano, o Engenho Camarazal foi desapropriado para reforma agrária e o novo assentamento passou a se chamar Assentamento Pedro e Inácio. Dez anos se passaram e até hoje ninguém foi punido pelo assassinato dos dois agricultores. O filme "Armas não Atiram Rosas" é uma denúncia contra a impunidade dos crimes cometidos pelo latifúndio e uma mostra da força do povo, que, mesmo ameaçado, mesmo perdendo entes e companheiros queridos, segue lutando por justiça e liberdade. Documentário realizado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, Comissão Pastoral da Terra e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Vidas Cheias - O documentário Vidas Cheias revela a sabedoria dos camponeses na convivência com o semi-árido e imagens da beleza pouco conhecida do Sertão nordestino. Vídeo realizado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e Comissão Pastoral da Terra.
Bagaço - O documentário Bagaço mostra a realidade dos trabalhadores e trabalhadoras na indústria da cana em Pernambuco. O vídeo retrata o dia-a-dia do trabalho no corte da cana, as violações de direitos, a destruição ambiental e a inviabilidade de um modelo de produção baseado no latifúndio e na super exploração do trabalho. Vídeo realizado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e Comissão Pastoral da Terra.



Informações:

Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
(11) 3271-1237 / 3275-4789 / www.social.org.br

Comissão Pastoral da Terra - PE
(81) 3231-4445 / www.cptpe.org.br

Movimento dos Trablhadores Rurais Sem Terra
(81) 3222-7569 / www.mst.org.br