quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ALICIA EN EL PAIS, de Esteban Larraín, 2008

Está acontecendo no Chile o 33. Festival de Cine da UC (Universidade Católica de Santiago).

O Festival, de longas em película, traz inusitadas seleções, tal como "lo mejor del 2008" com Batman, Tropa de Elite, Shine a Light, etc... No entanto, a seleção de "preestrenos" com La Zona, Gran Torino, Mal Gesto... empenam um pouco o mau gosto da outra curadoria. Mas o festival, que infelizmente peguei ao final traz também duas boas seleções, "nuevos horizontes", com filmes de todo o mundo e uma mostra de filmes chilenos 2008 : :

mirageman - ernesto diaz
rabia - oscar cárdenas
valor para seguir tocando - ricardo carrasco y debora gomberoff
tony manero - pablo larráin
secretos - valeria sarmiento
el cielo, la tierra y la lluvia - josé luis torres leiva

Essa seleção apenas pela sinopse e por alguns traillers parece interessante para pesquisar um pouco do cine chileno contemporâneo.

Bom, mas o filme que vi hoje foi Alice en el pais. Pelicula de Esteban Larrin, 2008.



A película extremamente silenciosa, sem nenhum diálogo, mostra uma jovem com traços indígenas, uma aymára, caminhado nas mais exóticas paisagens chilenas. Com uma mochilinha nas costas a jovem vai recarregando de água uma garrafa pet transparente. O filme que fez tombar de sono metade do público, numa sala lotada de descendentes espanhóis. Sim, o Chile, como todos os países da America Latina, ontinua com suas divisões sociais bem claras. Apesar de não haver pobreza grande nessas terras, os descendentes de índios estão nos balcões de loja, nos táxis, postos policiais. Enquanto nas salas de festivais, universidades? Os mais brancos, com olhos e narizes de espanhóis, etc e tal....

Bom, mas voltando a película o que fez o público dormir, inclusive minha mãe, me causou uma primeira pergunta, pela qualidade do material e pelos silêncios...

Não é que se tratava de um documentário? Sem ninguém aqui nem sonhar em usar essa palavra? Como assim? Sem distinção nenhuma. Bom, passado o susto, o filme segue, em uma grande caminhada, intercalada com imagens da jovenzinha com sua família, na escola, tudo monossilábico. Imagens bem comoventes, mas o filme fica meio assim, sem ação, caindo naquela velha questão da narrativa....

Acho que depois de uma hora e pouco, Alicia chega a seu destino, uma cidadezinha, ela sorri. Provoca aquela sensação de fim de viagem. Trajetória cumprida. A menina chegou na cidade, cumpriu sua marcha. Mas as imagens de um lugarejo tão pequeno não chegam a comover. E ai então que a ficção se resolve em documentário. Os letreiros aparecem com 2 textos. No primeiro ele revela que acompanhou Alicia uma jovem de 13 anos em sua trajetória de 180KM de migração da Bolívia para a cidade turística de São Pedro do Atacama no Chile. Essa migração por terrenos insólitos foi para que a jovem buscasse emprego e fugisse da pobreza de sua terra. O ponto mais forte é que ele associa essa viagem à caminhada que os povos dos Andes faziam como um rumo a maturidade. Um ritual de passagem.

O outro texto é mais duro e fala da tragédia da menina que mal chegando lá, foi descoberta pela policia e depois de trabalhar um mês ilegalmente, teve que retornar a seu país.

Com esse final quem pode dizer que o filme é chato?

Bom mas quando fui saber da história real ao qual foi baseado o filme. Fiquei intrigada. A questão é que havia uma grande narrativa que não foi trazida. Na vida real, aconteceram caronas, encontros, tensão com policiais, telefonemas, a própria família negociando sua partida, e um mês dela trabalhando em uma casa como empregada doméstica. Até em uma entrevista do diretor ele conta que ela fez essa odisséia algumas vezes. Ou seja, se no tempo real do documentário há um movimento da menina , que mesmo expulsa pela policia retorna outras vezes ao país cada vez mais esperta em relação aos mecanismos de vigilância das fronteiras, por que fazer uma ficção tão simplista? Ou melhor um documentário bem parecido com muitos, que carregam um único discurso, linear e maniqueísta.

Assim que o filme traz imagens belíssimas, respeita todo o silêncio que uma caminhada dessa possui, intercalado com uma trilha sensível. Os planos são longos e o filme mantêm um ritmo bem raro. Mas perdemos a oportunidade de ver que a força de Alicia não estava apenas no seu caminhar pelo deserto, mas de enfrentar aquela estrutura, amadurecer como previa a tradição andina de ir-retornar- ir-retornar ....

postado Aline Frey

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